sábado, 28 de abril de 2012

Na terra dos manés quem é cego é que vê!

- Quem é você?
- Eu sou um rei.
- O que você quer aqui?
- Ficar cego.
- Por quê?
- Na terra dos Manés, todos são cegos menos eu.
- Mas em terra de cego, quem tem um olho não é rei?
- Sim, mas no meu caso um rei sem majestade.
- E como isso é possível?
- Eu não sinto que vejo o que os outros não veem, e sim que sou um infeliz a enxergar o que ninguém quer ver.
- Já que você enxerga e os outros não, por que não os convence de que eles precisam de você?
- Porque perdi até mesmo a arrogância de acreditar que uma rua ladrilhada a ouro importa pra quem só deseja pedregulhos.
- E acha que vai ser feliz ficando cego como os outros?
- Não, absolutamente.
- Então por que quer ficar cego?
- Porque até os idiotas tem ganância. E temo que um dia haja uma revolta para que eleja-se um rei que seja cego como o povo. Estou me adiantando caso isso aconteça.

O rei ficou cego, mas jamais alguém quis ocupar o trono. Aliás, nesse reino, ninguém sequer sabe que há um rei.
Texto adaptado em homenagem ao artista Tó Vilela pelo brilhante texto "Os dois Manés" publicado no jornal A Notícia  como Suplemento Especial em comemoração ao 48º anversário de Monlevade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei o texto ! Simplismente brilhante

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